Eu vi cair. Dessa vez eu vi. Num estrondo de dez cometas explodindo, passou por mim, e foi indo. Quem, além de mim diria que ia dar nisso? Mas deu - Quando a água fluía na montanha, não tinha esse ar de perigo que reina agora. Flora, que antes ocupava os espaços dessa barragem, agora é só copa, vista da margem. Que lago profundo. A fauna deu lugar à água, que por sua vez, encheu-se de peixes. E outros aquáticos -
O Barro vermelho que se desmanchava quando chovia, agora, ta lá no fundo do lago, guardado, retido, pesado, não manipulado. Lembro-me de quando Tião escultor moldava suas musas no barro desse lugar. As musas, certas vezes, nem tinham paradeiro definido. Ficavam instituídas como cidadãs dessas paragens.
Belas brotas, prostitutas, putas de esquinas, amanhecidas. Cansadas de dá
No que iria dar quilo tudo? Quem ficava mais mudo? Quem regava mais o barro? Tião, Com a mão, num ato de Adão? Os curiosos, que ao ver as prostitutas esculpidas, teciam seu silencioso refrão? Ou a natureza habilmente modificada?
Mas o estrondo foi do tombo de quando a barragem engoliu a margem. Não sobrou “esculputura”
A saudade agora é a minha bagagem. Saí pra percorrer minha angustia e de cima de um monte apreciei, com alegria de ter sobrevivido as duas tragédias. A da mão do homem e a da retomada da natureza.
Leudo, 2006-12-18