sexta-feira, 3 de julho de 2009

Hoje, a leveza e o peso!

Não sei em que olhos meus olhos estão, mas, sei que onde eu estiver, seja lá em que dimensão onde eu vá repousar após a minha existência nesse sertão, tenho como certo que vou deixar meus olhos no luar desse lugar. Vivi dias que em alguns momentos roçaram minha pele como lixa, a limar as asperezas e arestas dos meus movimentos. Ouso dizer vivi, por que essa semana estarei completando 46 anos. Já tenho passado... Que estão tão presentes e não sinto vontade de vivê-los novamente. Na verdade, nem sei se temos tempo, sequer, para torcer algum elo dessa corrente que nos ata entre o quando nada éramos, até o que nada seremos...só lembranças. O nascer e o morrer, parênteses em que nossa existência dança, e, dança e, balança, nos lança, reinflama a infância, a inocência, malandrança....
Parece-me também que as lembranças são presentes nesses momentos do “dia dos meus anos”. Quantas vezes me vi não me vendo vivo hoje. Achava que não passaria daquele dia, lá atrás. Sei lá... Parece que tanto tempo, a tanto tempo faz! Foi ontem, mas hoje é longe demais. O tempo que me trouxe esperança, também, roubou minha paz. Não festejo estar vivo. Festejo os meus amigos, o meu filho, os “meus livros e discos” e, os amores que encenaram comigo essa ópera que é só minha. Meu texto. Meu riso. Meus momentos de loucura, de delírio, de cegueira, de vidência, de ausência na presença, de esperança e amargura. Só eu, meu ouvinte. Só, eu, e meus atropelos e equilíbrios. Eu, meus gritos, e o silêncio como resposta dando resposta a tudo isso.
Estou vivo, nem me belisco. Sinto o que sinto, nem mais, nem menos. Tenho vivido vivendo. Muitas vezes, nem vendo os rescaldos dos incêndios que se apagam por onde tenho vindo. É uma via de mão única. Algumas vezes vou à contramão, viro, volto, retorno, esbarro em mim nessa multidão. Respiro, volto a mergulhar. Afinal, isso tudo que está escrito: eu, minha existência e o tempo no infinito, já temos um gosto de ilusão. Que bom que me acompanho na solidão...

Leudo, 30 de junho de 2009.