sábado, 4 de outubro de 2008

Balada de interrogações e tardes

O que há de insano no meu modo de ser? Nas tardes de sábado me disfarço de estátua da liberdade - “... na mão direita tenho uma roseira autenticando uma eterna primavera e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis...” - é o sopro da poesia de Caetano nas minhas trompas de Eustáquio, forjada no martelo e na bigorna dos meus ouvidos médios. Às minhas semanas têm “Oiticica dias”, um deles é uma aba no tempo transacional. Sempre saio às tardes, buscando o sol que, de novo, não tem nada de novo e, mesmo assim, volta num outro entardecer com brilho remoçado. E, se põe e vem, e se põe e... A lua cheia no céu desses finais de tarde, início de noite, surge amarela, como se fosse um broche de ouro posto no vestido da dama noite. O Verbo é o meu açoite, decolo assim pros outros dias...
Que há de insano no meu jeito de pensar? Mas, o “Alienista” do mestre Machado, com certeza me transformaria num residente da Casa Verde, afinal, toda forma de “pensar” é uma forma de incomodar. Volto, assim, ao luar, não uivo, não quero acordar os centésimos que fracionam o estendido e entediado tempo, tempo eterno mesmo sendo um momento. Subo a tona para respirar, tão logo desperta a nação. Volto a mergulhar e, voltar à tona e, mergulhar e... Cada vez que volto estou diferente! E, continuam as perguntas: o que há de mar dentro de mim? A blindagem do meu córtex garante a minha motricidade... Nesses mergulhos tenho muito que driblar, contornar, concertar e avançar, concertar e avançar e... Cubro-me com estrelas do mar e mergulho no sono!
O que há de insano no meu jeito de estar? Bóio sobre o meu baú de coisas nesse mar de letras. Estou bravo, estou careta, estou quebrando minhas paredes com marretas. Onde estou? Sei que quando estou, sou! Não adianta perguntar-me aonde vou. Penso que não mapeei o caminho que já tracei, mas, pelos rasgos nas minhas vestes, com certeza, haviam rosas e espinhos. Meus trapos de linho branco, do algodão vindo do mesmo pó que me pariu. Será que estou vil? Sei que estou a zero e, noutros momentos, a mil! O mar subiu para respirar, então, sigo por aqui... Voar? Não, não gosto de voar. Quando o elemento é o ar, o atrito é mais reticente... Fico nesse mar da minha mente com esse sol que insiste em seu eterno bailado entre poentes e nascentes!

Leudo Carvalho, 04/10/2008