terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CAR (NA) VELAR

No armário, um divã. Mais a frente, deitado sobre uma esteira, o tempo. Nele, todos os somados, multiplicados, divididos e subtraídos gestos. Todos! Sem críticas éticas... De frente para todos os não momentos que também estão presentes com suas ausências. No fundo da cena há um sem nada imenso. Infinito! Como não se tem a métrica maior para o pensamento, resta-nos a gentileza de ocuparmos esse nada com as nossas vidas.
Hoje, a minha fantasia é a realidade. Dispo-me de tudo que me veste pelo avesso e me visto com a não forma que, também, é forma. Como um mestre-sala manco, tento acompanhar esse “samba de crioulo doido”, numa visão de um balé belo e infame. O corvo assentado em seu trono, espera pra moer a carne que recobre o esqueleto desse caótico dia-a-dia que é habita por uma moça que coseu o cosmos com a linha do equador, compensando, com uma veste menos torpe, vir cobrir a carne desse caminhar rumo as cinzas de uma quarta feira completa e seca.
Carnavalizar... Encontro de ritmos não sutis, porem, harmoniosos, que vão dando um lustre no chão desse novo céu em que piso. O chão é áspero e liso. Bons abrigos, rimas críticas, mas, segue-se a pista que à pista leva. De uns lados, luzes, e de outros, algumas trevas. Cores, caves, cortes e curas. Olhando assim, na altura da cintura, vejo a escuridão da minha desolação refletida na luz da marcha-rancho em que ocupo com a minha ilusão.
A Carne é aval dessa grande bola de sabão. È chuva para extravasar toda solidão de tantos foliões que passam pela vida a dançar sem percepção. Olha a negra maluca! A colombina! O pierrô! O desespero do pastor! A Vitória do tambor! De tanto festejarmos, legamos um carnavô!

LEUDO CARVALHO - 12/02/2010