segunda-feira, 18 de maio de 2009

Construindo e rolando.

Confesso que fico surpreso com os acontecimentos diários que nos chegam através de telejornais, Internet, imprensa escrita ou, pela fala dos nossos companheiros diários de prazer ou de dor. Somos submetidos a tantos desvarios que, se bem me lembro, todas as sociedades que já estiveram nos seus momentos de queda e glória – pois, sei que este bailado de sobe e desce é a motriz de todas as épocas – regurgitavam apenas as suas mazelas e agruras de seus então momentos de transição. Com atual avalanche de informações ao mesmo tempo, parece que tudo fica passando e nós, assistimos, horrorizados, em busca de solução para todos esses assuntos escabrosos. Da religião a Astrofísica. Mas, fico me perguntando: Qual é o momento que não seja de transição? Segundo Heráclito, “a única coisa fixa na natureza é a mudança”. Em que momentos “paramos” para avaliarmos se estamos em subida ou, em descida? Tenho lembrado muito, nesses velozes dias, do mito de Sísifo. Leia trecho a segui de: A Odisséia, de Homero. “Também vi Sísifo extenuando-se e sofrendo, empurrando um bloco com ambas as mãos. Na verdade, ele o arrastava até o cume, sustentando-o com os pés e com as mãos; mas, quando estava a ponto de, finalmente, atingir o alto da montanha, o peso excessivo o impelia para baixo. Novamente, a pedra impiedosamente, rolava até o vale. Entretanto, ele reiniciava o trabalho e a empurrava morro a cima, a ponto de ficar com o corpo banhado de suor. Ao redor de sua cabeça, porém, pairava uma nuvem de poeira”.
É! O troço é mesmo muito trabalhoso. Porém, as nuvens de poeira que circundam as nossas cabeças, dependem do peso que damos ao “bloco” de coisas que vivemos a “empurrar/segurar” quando atritam com o “solo” do “monte” no quando o impelimos para chegar ao cimo. Tendemos a crer que há um estancar, um stop, para os nossos movimentos. Esquecemo-nos que é esse “bloco” que vamos construindo no decorrer de nossa existência e, é uma edificação que não cessa. Seja ela: pobre, rica, feia, torta, certa, mágica, dolorosa... Etc. Independente de como almejamos o nosso tão famoso “futuro/cume”, é o nosso lidar no dia-a-dia, que vai valer na hora que a pedra rolar morro abaixo e nos devolver o peso que já havia nela. E, acabamos somando a esse volume já existente nos nossos “blocos”, outro tanto de “massa” que reside no agir de cada um de nós. Um eterno vai-e-vem! Mas, que bom que temos “blocos”, “morros”, “cumes” e essa figura mitológica que é Sísifo para nos referenciar.
É necessário lembrá-los que, antes de Sísifo chegar a esse “castigo esterno”, ele gozou de muita esperteza e sagacidade. Imaginem que ele enganou a morte e conseguiu com as suas trapaças e astúcias, protelar o máximo seu momento final de existência no mundo dos vivos.
Queremos construir o “bloco”, não nos damos conta de que material ele está sendo feito. Quando chegam os momentos de subidas, queremos dispensar partes desse legado. É ruim hein! Somos nós, nosso “bloco” e, os que se relacionam conosco, cada um com seu “bloquinho” ou, “blocão” se dirigindo rumo à montanha. Ainda por cima, temos as rotas de colisão de “blocos”. O legal nisso tudo é que tem muita gente nos ajudando a construir/carregar nosso “bloco”, com a qualidade do material do “bloco” deles... Que venham as montanhas!



Leudo, 24 abril de 2009