quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vendo...

A chuva remove montanhas!

Vi uma cidade se desmanchando como gelatina. Como castelo de areia quando lambido pela água do mar. Só que esses “castelos” eram reais. Não há mais jardins, quintais, varais. Não há nada que o sol possa secar. E a dor no peito a varar, sangrar, roer... Punir. Casas e sonhos. Coisas em lixo. E, a montanha vindo abaixo. O morro alto que ficou chato. Tudo que, em tão pouco tempo, virou nada... Já não há estrada: “Ali onde está aquela lâmina dágua, era aminha morada”, diz uma voz desamparada!
A montanha andou. O barro vermelho que sangrou, parecia as entranhas do morro. O morro que pedia socorro. Horrorizado com quem nele fazia morada. Arvores foram fatiadas e, casas, no lugar delas, foram plantadas. Mas, o morro descia... A montanha fervia... Mesmo quando o céu cuspia água... Água que rolou no rosto da mãe desesperada, como gotas de mágoa.
Mata e montanha, devastadas. As imagens pela televisão, de tão exploradas, moveram as montanhas de nossos egoísmos. As montanhas que, não fosse uma desgraça, para que escalássemos, e entendêssemos nossas limitações, não estaríamos nem aí para nada. Vimos como podemos realizar os milagres na vida de nossos humanos irmãos. Será que a seca salvará mais pessoas que as enchentes? Será que nossos irmãos do Nordeste também não sentem ausência de chuva nos dentes que ganem para o mesmo céu que nos cobre? O céu em que a fé busca saciar a eterna sede de ser cidadão? Terá céu acima do chão? O solo do sul a rachar, soluçando na busca de solução. Solução que se encontra na palma da mão de quem se consterna com os últimos acontecimentos dramáticos. Quem vai virar o jogo e transformar as perdas em nossa recompensa? A Chuva removeu muitas montanhas em uma só enxurrada. Mandou brasa no coração dos nossos eus frios. É, água, é fogo! Vamos nos lavar nessa correnteza, nesse imenso e solidário rio... Afinal, todo rio corre para o mar, misterioso mar!

Leudo Carvalho, 05 de Dezembro de 2008.