segunda-feira, 15 de outubro de 2007

CONTANDO


Quem sabe o que eu não sei?

Foi a você, que eu perguntei por mim? Foi? Sim!
- Pois eu sei muito bem do que me privei. Eu? Não.
Eu só tenho que seguir. Livrarme de estradas que só servem pra
bater casco. Como resgatar uma estreita relação comigo se não
tenho muita intimidade com a minha pessoa? – ah! Você me dizendo isso?
Não sei se posso confiar – mas vou tentar mergulhar em mim
– é de olhos fechados? Assim? Então lá fui eu!
To vendo. Tudo Isso aqui é meu estomago? E isso?
Meu coração? – Não há nitidez, é muito escuro aqui.
Ah! É pra olhar na consciência? – Ui! Vou ter que subir
– pronto, cheguei. Agora é que ta tudo escuro mesmo.
Tem algum interrupitor de luz aqui? Eu acho que não.
Mas tu sabes de tudo! – vai ver plantou algum aqui.
Então é de anima que estamos falando – Jung dizia o quê?
Parte feminina do nosso eu? Eu Imagino esse cara. Devia ser
uma dessas figuras de costumes noturnos. Com hábitos diferenciados.
Fumo, cola de sapateiro e outros bagulhos. Bem em moda nos
anos idos.
- O quê? Estão vivos esses anos? Convivemos com eles?
E tudo isso cabe na nossa consciência? – olha que vou abrir
os olhos. Ora? Porque vou abrir os olhos? – eles são meus,
já não lhe basta? Eu sou uma besta? – agora você foi longe demais.
Minha busca ta ficando meio louca, saberei controlar
os impetus. Fui devorado pela minha própria boca. Já nem sinto
que tenho uma. Também não consinto olhos, face, nariz ou outras
partes da minha morada pouco elástica. Nos últimos anos, quase
não tenho feito exercícios, ou qualquer movimento que não seja
levar o copo a boca, folhear jornais, revistas ou livros, e dedilhar
no teclado. Sempre buscando escrever algo diferente. Será que ainda
há algo diferente? – de tanto diferenciar-se, tudo ta ficando todo igual.
Sim? E agora você volta a falar comigo? Tem certeza do que
ta dizendo? Só nós habitamos aqui? Agora você deve querer que eu
pergunte: onde estou? - Onde? Em mim? Como assim?
Devo estar ficando doido, ou coisa do gênero. Um cara
que fica falando o tempo todo que eu to dentro de mim... não
sei quem eu sou... só t’ando dô... peraí meu! será que adormeci
com a mão debaixo da cabeça, ou por cima do estômago? É bem verdade
que comi feijoada hoje, e tomei umas cinco caipirinhas,
mas... até aí, eu g’uento bem. Acho realmente que tô tendo
um pesadelo.
Vou sacanear com ele. Ai! quando eu acordar...
Quando eu acordar vou pular da cama, pegar meu molho de chaves,
desbravar as escadas escuras do prédio, e cair na rua.
A essas alturas, já vai ta rolando o chimarrão das cinco,
o baseado da tarde, e as notícias frescas que nem o açougueiro
ousaria contar. Quanto a esse momento de desapego à minha tão
redonda matéria, para esse tão jacuzesco mergulho em mim,
banhando-me em caldo de bílis, suco gástrico e massa cinzenta,
to adorando. Tudo isso, organizado por algo ou alguém que nem vejo,
não tenho a mínima idéia de quem seja, e que insisti em dizer que
eu o reconhecerei se olhar bem dentro da minha consciência.
Ora! Eu nem me conheço. E nem pretendo mexer com o que ta quieto...
por falar em quieto, ta tudo tão silencioso. Sempre pensei que coisa
de consciência fosse algo barulhento, eu hem! O que me salva,
é que não sou louco sério. Só um pouco, algo que álcool com
limão e açúcar dá um jeito.
Tô me sentindo tão bem agora. Parece que todos os pesos
que me prendiam, passaram. Só a consciência é que me incomoda!
Merda!!! Cheguei à consciência... mas não acordei
LEUDO, 2006-11-16

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi , Tio Leudo! O dia que o livro for editado e publicado eu quero 10% de todos os lucros. Deste jeito, não vai demorar muito. Parabéns!!!!!

Unknown disse...

fico imaginando na época!!pena que o comentário seja agora.Mas lá ou cá vale:muito bom mesmo meu jovem!!!